Artigo postado no blog do Nassif, para ler e reler, infelizmente um portugues.
A economia solidária, como o novo Bolsa Familia
- Propostas para um novo tempo
- Semana passada participei de um seminário da Unicamp sobre o novo marco legal da inovação.
Um debate rico, em que dividi a mesa com Epitáfio Macário, da Universidade Estadual do Ceará e Renato Dagnino, da Unicamp.
Dagnino defendeu uma tese instigante: a de que o país deveria abandonar os cânones tradicionais, de investir em inovação para conferir competitividade à indústria brasileira. Em vez disso, direcionar os investimentos para a economia solidária, a forma mais antiga e mais moderna de organização econômica.
Hoje em dia, diz ele, 70% das pesquisas mundiais são geradas nas empresas, 70% das quais transnacionais.
Hoje em dia, as políticas científico-tecnológicos buscam ampliar a competitividade sistêmica, injetando recursos na inovação e induzindo a área acadêmica a centrar fogo em pesquisas.
Segundo Dagnino, há duas falhas centrais nesse modelo:
1. A maior parte das pesquisas nas empresas que não se traduz em emprego e produtos bons e baratos.
2. De sua parte, o Estado, através de suas instituições de pesquisa, não produz competitividade sistêmica na pesquisa.
Hoje em dia, diz ele, na Espanha metade dos jovens de até 30 anos está desempregado. No Brasil, nos últimos anos de bonança foram criados 18 milhões de empregos com rendimentos abaixo de 3 salários mínimos. Onde entrarão 80 milhões de brasileiros em carteira assinada, indaga ele.
Confrontando números, Dagnino é descrente em modelos de reindustrialização preconizados pelo neodesenvolvimentismo. A indústria emprega hoje 2 milhões de pessoas com carteira assinada, representa 11% do PIB. Como mover, através da indústria, um universo muito maior? Segundo ele, o Brasil teria perdido definitivamente o bonde da corrida tecnológica convencional e da industrialização.
O custo da mão de obra brasileira é suficientemente baixa para gerar competitividade das empresas, indaga ele? Na Alemanha, o salario médio da indústria é de 30 dólares a hora. Na China, de 0,6 dólar mais o subsidio oficial. No Brasil, é de 5 dólares. Como superar um hiato de 7,5 vezes o custo do trabalho na China?
É plausível que empresas nacionais façam P&D para serem competitivas e superar essa diferença? Difícil, responde. No Brasil, a inovação é imitativa: aquisição de tecnologia conhecida, através de máquinas e equipamentos.
As empresas inovadoras brasileiras são 30 mil, segundo a PINTEC (Pesquisa de Inovação do IBGE), mas 80% declaram que fazem inovação através de compra de máquinas e equipamentos.
Segundo Dagnino, o mainstream da área acadêmica toma essa fragilidade como argumento para injetar recursos de pesquisa na Universidade, devido ao fato dos empresários nacionais serem atrasados por não entender o papel da C&T (Ciência e Tecnologia).
Dagnino discorda tanto da estratégia quanto do julgamento do empresário.
Nos Estados Unidos, alega ele, quase a totalidade do recurso empresarial em P&D é aplicado dentro das próprias empresas e apenas 1% contratado das universidades e institutos de pesquisa. O grande papel da Universidade é formar mestres e doutores. E apenas 1% dos gastos universitários vem das empresas.
No Brasil, das 30 mil empresas inovadoras, apenas 7% têm relação com a universidade.
Entre 2006 e 2008 o Brasil formou 90 mil mestres em ciências duras. Apenas 68 foram empregados nas empresas, segundo dados da CAPES e da PINTEC. Os contratos com empresas garantem apenas 0,8% do orçamento da Unicamp e 0,2% do orçamento total das universidades brasileiras.
Segundo ele, empresários brasileiros são competentes, respondem aos sinais do mercado, frequentemente vão para Europa, Japão e China atrás das novidades.
A busca do caminho
Qual seria, então, o caminho da pesquisa no Brasil?
Segundo Dagnino, há um erro central de buscar a internacionalização da universidade pública, transformando-a em padrão mundial. Servirá apenas para formar mão de obra para as grandes transancionais, não para um projeto nacional.
Segundo ele, inclusão social não virá através de políticas de emprego e renda, mas pela criação de trabalho e renda. A janela de oportunidade brasileira seria a economia solidária, que começou forte em 2003 e depois foi definhando.
Mas qualquer política industrial só nasce a partir do Estado, jamais dos sinais do mercado. É o caso do pré-sal e da Embrapii.
A economia social necessita de dois impulsos das políticas públicas.
Primeiro, a criação de uma plataforma cognitiva, cientistas dispostos a desenvolver tecnologia social, conferindo competitividade e consistência à produção coletiva, não apenas aprimorando a produção como desenvolvendo formas de gestão. É o caso da reciclagem de alumínio, na qual o Brasil é campeão mundial, que comporta muito valor agregado, na fabricação de utensílios, equipamentos.
Depois, o Estado direcionando as compras e serviços públicos para esse setor.
Dos 40% do PIB, diz ele, 18% se referem a compras públicas. Com 0,45% do PIB a Bolsa Família tirou 30 milhões da miséria. Se colocasse 4% das compras públicas na economia solidária, o efeito seria gigantesco.
E nem se imagine grupos sem iniciativa, apáticos em relação ao mercado. Criadas as condições de mercado, haverá a competição natural e o empreendedorismo de pessoas e de grupos.
O caminho não é a propriedade dos meios de produção nem o capitalismo selvagem, diz ele, mas a propriedade coletiva dos meios de produção através de processos de autogestão.
Obviamente, não será o único foco da economia. Mas certamente aquele que gerará mais emprego e renda.
Esse tipo de projeto casa com uma ideia que defendemos em 2014 que acabou abafada pelas sucessivas crises políticas: o investimentos nas chamadas economias de bem estar, saúde e educação.
Até o golpe, o Brasil era a única democracia estável dentre os países baleia emergentes. A democracia trouxe uma demanda crescente de serviços de saúde e educação. Com o mercado interno da clientela e das compras públicas se poderia trabalhar em modelos que pudesse, ser exportados para outros países emergentes.
- http://jornalggn.com.br/noticia/a-economia-solidaria-como-o-novo-bolsa-familia#comment-948171
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